Presidente do PMB diz que nova legenda é
“feminina”, mas “não feminista”. Com 21 representantes na Câmara e um no
Senado, partido só atraiu duas mulheres. Sigla é contra
descriminalização do aborto
PMB
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Com
uma bancada que já soma 21 deputados, sendo 19 homens, o Partido da
Mulher Brasileira completará, no próximo dia 29, três meses de criação. O
partido já tem também um senador. Apesar da disparidade de gênero entre
seus representantes, o PMB entrou na arena política defendendo o
aumento da participação das mulheres na política. Feminino, sim, mas
feminista, não, segundo a presidente da legenda, Suêd Haidar.
Apesar de ser favorável à união homoafetiva, o PMB é contrário à
legalização das drogas e à descriminalização do aborto, por exemplo, uma
bandeira antiga dos movimentos feministas no país. O fato de o Partido
da Mulher não se assumir como feminista não é visto como um problema
pela presidente.
“Essa ferramenta [feminismo] foi muito importante para todas nós e
continua sendo, mas o partido vem com uma bandeira feminina do aumento
do número de mulheres em cargos públicos. Nós estamos vivendo um momento
de transição da modernidade, da mulher mais moderna. E nós acreditamos
que para a sigla o nome feminino fica mais atraente, até porque o
partido é composto de homens e de mulheres. Não é uma bandeira única só
da mulher”, defende Suêd.
Em entrevista ao Congresso em Foco, a maranhense de
58 anos diz que o predomínio de homens na bancada do Partido da Mulher
não soa contraditório, uma vez que dos 513 deputados federais eleitos em
2014, apenas 51 são mulheres. “Há de se entender e reconhecer que
comparando o quantitativo de homens com o de mulheres, é difícil, nesse
momento. E nós ainda não elegemos nossas parlamentares, temos que
trabalhar muito para atingir o nosso objetivo”, avalia.
Suêd conta que participou da fundação do PDT, partido ao qual foi
filiada por seis anos e meio, passando em seguida uma temporada de dois
anos no PTdoB. A presidente do PMB explica que foi feito o convite para
várias parlamentares integrarem o quadro do partido, mas por enquanto
apenas as deputadas mineiras Brunny (ex-PTC) e Dâmina Pereira (ex-PMN)
entraram para a legenda. “As poucas deputadas que existem estão em
outros partidos. Nós entendemos isso, elas já têm um trabalho, uma
trajetória, e isso também nós temos que respeitar”, argumenta a
presidente.
Com oferta de acesso a recursos do fundo partidário, espaço no
horário partidário e comando de diretórios locais, o PMB atraiu quatro
vezes mais parlamentares do que a Rede Sustentabilidade, criada por
Marina Silva. Único senador a migrar para a legenda, Hélio José (DF) já
foi acusado de abuso sexual contra uma sobrinha. Hélio nega as acusações
e as atribui a perseguição de adversários políticos.
No período de migração de partidos estabelecido pelo Supremo Tribunal
Federal (STF), parlamentares de 12 legendas – das mais diferentes
correntes ideológicas – ajudaram a compor a bancada do novo partido.
Deputados de partidos da base governista, como PT e PMDB, e
oposicionistas, como SD e PV, deixaram de lado as diferenças em nome da
“valorização social, moral, profissional e política da mulher”, segundo a
propaganda da legenda.
Homem
Apesar de o estatuto do partido dizer que “o PMB terá como seus
maiores compromissos a defesa da igualdade de direito entre sexo e da
não submissão da mulher em relação ao poderio ainda dominante do homem
brasileiro”, a própria liderança da legenda na Câmara ficou a cargo de
um deputado: Domingos Neto (CE), que desde 2009 já passou pelo PSB
(2009-2013) e pelo Pros (2013-2015), exercendo a liderança neste último
até migrar para a nova sigla.
A busca por um entendimento entre representantes de origens políticas tão diferentes é “desafiadora”, como define Suêd.
A Executiva Nacional do partido é formada por 17 integrantes, segundo
a presidente. Perguntada sobre as pessoas que compõem a direção do PMB,
Suêd é evasiva: “São pessoas de todos os segmentos sociais, pessoas de
movimentos partidários que sempre militaram na política partidária e que
estavam no anonimato”. Mas garante: 60% (ou seja, 10) são do sexo
feminino. Mais equânime do que a bancada da Câmara.
O PMB foi fundado em 2008 e desde 2013 vinha tentando se oficializar,
o que só conseguiu no fim de 2015, com o cumprimento dos pré-requisitos
e a apresentação de 501 mil assinaturas de apoio. Com dois meses de
criação, o partido tem diretórios em onze estados, porém, de acordo com o
site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), até o mês de outubro o PMB
somava apenas 34 filiados distribuídos por três estados: Rio de Janeiro
(21), Pernambuco (9) e Bahia (4).
Planos
A formalização permite que o partido lance candidatos já nas eleições
municipais deste ano, o que, segundo Suêd, está nos planos da legenda.
“Vamos trabalhar em todas as cidades para lançar candidaturas próprias
ou, em casos em que não consigamos isso, por coligação”, revela.
A legenda prefere não assumir posturas extremistas em seu
posicionamento ideológico. “O PMB é centro-esquerda com um
posicionamento de centro entre o capitalismo e o socialismo, com uma
tendência maior ao socialismo, ou seja, esquerda. O ponto principal da
orientação é exatamente buscar o melhor posicionamento de ambos os lados
e trazer para o nosso partido”, diz o site.
Nas diretrizes estabelecidas pelo programa do partido para a área de
direitos humanos há o objetivo de “fortalecimento da família” – tema
controverso, pois há quem defenda o único modelo familiar, descrito no
Estatuto da Família, que não reconhece, por exemplo, famílias formadas
por casais homoafetivos. O texto não deixa claro o posicionamento do
partido nessa área, mas Suêd garante que o PMB não está de acordo com a
proposta do Estatuto da Família.
Nas demais “áreas setoriais” (política, econômica, social e meio
ambiente) as propostas apresentadas pela legenda são genéricas, como
“ampliação de geração de empregos” ou “garantia de um melhor
desenvolvimento sustentável”. A presidente do partido explica que o
programa político ainda está em fase de construção. “Uma coisa foi o que
nós fizemos lá atrás, no início, para a formação do partido”,
esclarece. “Agora é que nós vamos nos reunir para tirar a linha e as
diretrizes do partido”, conclui.
fonte: http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/manchetes-anteriores/quase-so-de-homens-partido-da-mulher-nega-feminismo/
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