Muitas vezes o candidato é comparado a um produto e a campanha ao esforço coordenado para vender esse produto
Publicado em: 30/05/2013
O marketing político nasceu do marketing comercial, mas logo dele se
diferenciou. Grande parte dos erros políticos de campanha provêm da
insistência em desconhecer estas diferenças.
A linguagem corrente, usada em campanhas eleitorais, é uma
evidência da origem comercial do marketing político. Fala-se, com
absoluta naturalidade, do candidato como um produto, da campanha como o esforço coordenado para vender o produto.
A analogia do ato de votar com o ato de comprar é quase obrigatória e, em grande medida, determina a linguagem, a propaganda, o comportamento do candidato e suas propostas.
Afinal, a campanha eleitoral, como uma campanha de vendas, é um processo de comunicação interessada,
isto é, o agente da comunicação busca provocar uma reação no seu
público alvo que lhe favoreça, diferentemente de outros tipos de comunicação não interessada, como a altruísta, afetiva, educativa.
A analogia portanto é apropriada e útil, mas não passa de uma analogia. Aponta semelhanças, identifica características comuns, mas não descreve uma mesma realidade.
Ela é apropriada porque há semelhanças muito importantes entre o ato de comprar e o de votar; é útil sobretudo porque impõe ao candidato uma postura ativa, empurrando-o para o esforço de persuadir eleitores.
O candidato-produto acaba sendo transformado em ator
As diferenças entre o marketing comercial e o político são, porém, pelo menos tão importantes quanto as semelhanças.
O ponto crítico destas diferenças localiza-se no lado do comprador (eleitor). O eleitor, mesmo encarado como um comprador, é um comprador completamente diferente do consumidor comercial.
A insistência em desconhecer ou ignorar estas diferenças, e o hábito
de tratar o eleitor como se fora um consumidor de um produto comercial, é
uma das decisões mais equivocadas que se comete, responsável, na
maioria dos casos, pelo insucesso eleitoral.
Ela equivale, em termos práticos, a substituir, ou, na melhor das
hipóteses, a subordinar a estratégia política à estratégia de vendas, o
que acarreta conseqüências muito mais graves para a campanha do que uma
análise superficial revelaria.
A primeira conseqüência é atribuir-se à publicidade de campanha, e ao
publicitário que a concebe e dirige, um poder quase “mágico” de
persuasão dos eleitores.
A segunda conseqüência é o contraponto da primeira :
o eleitor é visto como um indivíduo cuja decisão de voto será
basicamente determinada pela qualidade da campanha publicitária que lhe
será oferecida.
A terceira conseqüência diz respeito ao candidato.
Encarado como um produto, ele tende a ser transformado em um ator que
deve representar, disciplinadamente, o papel que lhe está reservado no
“script” publicitário da campanha.
O fato entretanto é que nem a publicidade possui aquele
poder mágico, nem o eleitor é tão manipulável, e nem o candidato pode
ser reduzido a um ator representando um papel.
Esta cadeia de conseqüências entretanto, subordina a estratégia
política à publicitária. Se todos os candidatos adotarem o mesmo
procedimento, vencerá provavelmente aquele que tiver a melhor
publicidade.
Se entretanto, um dos candidatos competitivos (chance de vencer) estruturar a sua publicidade a serviço de uma estratégia política correta suas chances de vencer a eleição são muito maiores.
Isto ocorre porque, diferentemente das campanhas comerciais, na
campanha política, pelo fato de que nela é tão legítimo promover o “seu
produto” quanto atacar os “produtos concorrentes”, sempre chega o
momento em que o eleitor é levado a procurar o candidato, e até a pessoa
do candidato, por trás da imagem que lhe foi cuidadosamente apresentada
pela publicidade eleitoral.
Somente o marketing político isto é, o uso
das técnicas publicitárias como um instrumento de comunicação de uma
estratégia política para divulgar a mensagem certa para o público certo, pode preparar uma candidatura para enfrentar este momento da verdade.
fonte: Politica Para Políticos