Este
é um complicado dilema que afeta a todos os pré-candidatos a uma eleição. Você
deve pensar bastante antes de dar este passo
Tomar a decisão de concorrer é um
problema que afeta a todos os pré-candidatos a uma eleição. Para alguns se
trata do próximo passo numa carreira já assumida. Para outros, entretanto,
implica em uma decisão complexa e até angustiante de iniciar ou de mudar uma
carreira.
A decisão de concorrer
pode ser a última peça que falta para começar uma carreira política
A decisão de concorrer empurra o candidato para o
melhor dos mundos e para o pior dos mundos. É uma experiência inesquecível que,
no breve espaço de tempo em que ocorre, traz à tona o melhor e o pior das
pessoas.
Concorrer implica jogar-se para dentro de um novo
mundo, fascinante e atemorizante, que tem o poder de fazer com que sua vida
nunca mais seja como era antes. Ela será melhor ou pior, mas o certo é que não
será igual. Poucas atividades produzem um envolvimento pessoal,
tão intenso e tão exigente, quanto a de ser um candidato. A candidatura provoca
altos e baixos no seu humor e sentimentos, a cada dia, ou mesmo a cada hora.
Com a decisão, você transita, de maneira
imediata, do mundo privado para a esfera da vida pública. Nesta passagem há perdas
e ganhos. Você perde a proteção de sua privacidade, o comando do seu tempo e
muito da qualidade de sua vida pessoal e familiar.
Você, por outro lado, ganha a experiência única
de participar e influir nas questões maiores da sua comunidade, o envolvimento
no mais emocionante dos jogos que um adulto pode jogar e a condição honrosa,
para você e sua família, de poder tornar-se uma autoridade pública.
A decisão de concorrer, portanto, considerando-se
todos os aspectos que ela envolve, exige uma madura reflexão prévia
e um julgamento sóbrio e realista. Você tem que entrar sabendo, para não se
arrepender depois.
Embora quem decida concorrer o faça na
expectativa da vitória, é oportuno estar consciente de que somente um, em cada
3 ou 4 candidatos, conseguirá se eleger. Saber conviver com a derrota é, pois,
uma condição psicológica indispensável para quem entra na
política.
É bem verdade que as derrotas na política não são
absolutas. Sua votação torna-se seu capital, seu patrimônio. Um candidato
derrotado para uma função pode vir a ocupar outra (derrota parcial/vitória
parcial), em razão da votação que logrou fazer. É, pois, possível permanecer no
"jogo", mesmo não tendo obtido sucesso na disputa que enfrentou.
Para quem decidiu concorrer, portanto, o importante
é continuar no jogo, o que se consegue com o apoio dos eleitores, mesmo que em
número insuficiente para se eleger. A competição política, como a guerra, não é
uma escaramuça simples, onde pessoas de "pele sensível" se enfrentam.
Ela exige, ao contrário, pele grossa
para resistir aos ataques e muita determinação e firmeza. Os melhores
candidatos são operadores duros, capazes de aplicar tantos
golpes, quanto os que recebem. Deve-se estar preparado para lidar com gestos
tocantes de apoio e solidariedade, assim como gestos de covardia e traição.
Deve-se ser capaz de inspirar outros, de motivá-los, de identificar-se com os
seus sentimentos e desejos, sem comprometer sua visão estratégica e racional.
Não se faz campanha sem emoção, mas não
se ganha sem planejamento e racionalidade.
A decisão de concorrer causa também a necessidade
de preparar-se para a campanha eleitoral. O talento para a política pode ser
inato na pessoa. Mas, como em outras áreas, o aproveitamento do talento, como
um diferencial na competição, dependerá sempre da disciplina, da preparação, do
aprendizado e, no caso da política, da capacidade de produzir um trabalho
coletivo.
A campanha funciona
como uma pequena empresa, na qual a união é fundamental
O talento, sem estes acompanhamentos,
pode produzir lances brilhantes, mas carecerá da continuidade, da
profundidade e da disciplina, sem as quais dificilmente se conquistará
a vitória. Há um conhecimento, testado e comprovado, sobre eleições e
campanhas eleitorais, que o candidato não pode ignorar. Mais ainda,
este é um conhecimento que está em constante transformação e evolução, de forma
que, mesmo os políticos experientes, precisam se atualizar.
Uma campanha eleitoral moderna é um
empreendimento muito complexo e sofisticado, quando comparado com as formas
antigas e tradicionais de fazê-la. Correndo contra um tempo que sempre é
inferior ao desejável e, contra uma necessidade de recursos que sempre é maior
do que a disponibilidade, o planejamento, e a organização para a coleta de
informações, o marketing da candidatura e a correta estratégia são imperativos
dos quais dependem as chances de sucesso na disputa.
Na realidade, a campanha eleitoral é uma
empresa (em certos casos, uma grande empresa) feita para durar alguns
meses e produzir uma vitória. Montar esta empresa, sustentá-la, e operá-la com
eficiência constitui um desafio que, por certo, exige preparação prévia e
conhecimento.
A condição primeira, para que
estas exigências da moderna campanha eleitoral sejam satisfeitas, é uma
decisão de concorrer assumida "com gosto", disposição para enfrentar
o que vier pela frente e a ambição de vitória.
Na próxima edição, vamos apresentar as perguntas
que o candidato deve responder para si mesmo, antes de decidir-se a concorrer.
Francisco Ferraz